O lipedema piora no calor, e sei que muitas de vocês que me acompanham sentem isso na pele, literalmente. É uma queixa bastante comum aqui no consultório: “Doutor, parece que no verão minhas pernas ficam o dobro do tamanho e a dor aumenta muito!”.
E acredite, isso não é apenas uma impressão. Existem motivos bem concretos, ligados ao funcionamento do nosso corpo, que explicam essa piora dos sintomas do lipedema nos dias quentes.
Entender essa ligação é um passo importante. Com esse conhecimento, conseguimos pensar em estratégias mais eficientes para aliviar esse desconforto todo. Queremos melhorar sua qualidade de vida, mesmo quando os termômetros sobem.
O calor age como um gatilho. Ele dispara uma série de reações no organismo que, em quem já tem lipedema, acabam acentuando os problemas. Por isso, preparei este artigo abaixo.
Entendendo o lipedema
Antes de mais nada, vamos relembrar rapidinho o que é o lipedema. Muita gente ainda confunde com obesidade ou com linfedema. Mas o lipedema é uma doença inflamatória crônica, bem particular.
Ele afeta o tecido gorduroso, fazendo com que a gordura se acumule de forma desproporcional. Geralmente, isso acontece nas pernas e nos braços. Uma curiosidade é que mãos e pés costumam ser poupados.
Essa condição afeta quase que exclusivamente as mulheres. Os sintomas muitas vezes aparecem ou pioram em fases de grandes mudanças hormonais. Puberdade, gestação e menopausa são exemplos bem clássicos.
Além do volume aumentado, o lipedema traz dor ao toque, muita sensibilidade, aqueles roxos que aparecem do nada e uma sensação constante de peso e cansaço nos membros. A pele pode ter um aspecto de “casca de laranja” mais intenso e doloroso.
É muito importante não confundir. Diferente da obesidade comum, essa gordura do lipedema é teimosa. Ela não some fácil com dietas e exercícios. Além disso, o lipedema é uma condição inflamatória.
A gordura envolvida na doença não é passiva, ela não está só “ali”. Ela produz substâncias inflamatórias, as chamadas citocinas, como o TNF-alfa e a IL-6. Essas citocinas mantêm o corpo como se estivesse em um estado de alerta constante, inflamado.
Já no linfedema, o problema principal é no sistema linfático, causando um inchaço que pode ser diferente em cada perna e geralmente pega pés e mãos. No lipedema, o sistema linfático pode sim ser afetado, mas como uma consequência, com o avançar da doença.
Por dentro da piora do lipedema no calor
Quando o calor aperta, nosso corpo tem um jeito esperto de se refrescar: a vasodilatação. Os vasos sanguíneos se dilatam, ficam mais larguinhos. Isso faz o sangue circular mais perto da pele, ajudando a liberar calor para o ambiente. É um mecanismo natural, super importante. Só que, para quem tem lipedema, essa ajuda natural pode acabar atrapalhando.
Com os vasos mais dilatados, a parede deles também fica mais permeável. Imagine uma peneira com os buraquinhos maiores. Assim, mais líquido do sangue (o plasma) consegue escapar para o espaço entre as células, o tal do interstício.
Esse excesso de líquido ali causa mais inchaço, um sintoma que já é um velho conhecido de quem tem lipedema. Some a isso o fato de que o tecido gorduroso do lipedema já é inflamado e tem problemas na microcirculação. A vasodilatação pelo calor sobrecarrega ainda mais esse sistema já sofrido.
E a inflamação? O calor pode amplificar essa resposta. Como falei, a gordura do lipedema produz aquelas citocinas inflamatórias (TNF-alfa, IL-6). O estresse térmico pode, teoricamente, aumentar ainda mais essa produção ou a sensibilidade do corpo a elas. O resultado é mais inflamação, mais dor.
O sistema linfático, que é nosso sistema de drenagem, também sofre. Ele já pode estar meio sobrecarregado no lipedema. Com mais líquido vazando por causa do calor, a carga em cima dele aumenta. Aí, a drenagem fica mais lenta e o inchaço piora. É por isso que o lipedema piora no calor. É uma verdadeira cascata de eventos.
O impacto direto do clima quente nos seus sintomas
O inchaço aumentado é, sem dúvida, o que mais incomoda. Mas ele não vem sozinho, infelizmente. Com mais líquido pressionando os tecidos, a dor e a sensibilidade podem ficar bem mais intensas.
As pernas e braços ficam mais pesados, doloridos até com um toque leve. Em alguns casos, até a mobilidade diminui um pouco. O lipedema piora no calor e isso mexe diretamente com o bem-estar diário.
A inflamação, como já comentei, parece dar um salto com o calor. O tecido do lipedema já vive inflamado. O estresse extra do calorão e da vasodilatação pode, sim, liberar mais “mensageiros” da inflamação.
Isso só piora a dor e o desconforto geral. Embora seja necessário mais estudos para cravar cada detalhe molecular, a experiência que vejo no consultório aponta muito para essa relação.
E a fadiga? Ela também pode aumentar. Nosso corpo gasta mais energia para tentar se manter fresco. Além disso, o peso extra do inchaço e todo o mal-estar contribuem para um cansaço maior.
Algumas pacientes também me contam que os roxos aparecem mais fácil ou ficam piores. Isso pode ter a ver com as alterações nos vasos e a fragilidade dos capilares, que o calor pode acentuar.
O que a ciência diz sobre lipedema e calor
A pesquisa científica focada especificamente no efeito do calor no lipedema ainda está caminhando. Mas a gente pode aprender muito com estudos de condições parecidas, como o linfedema e a insuficiência venosa crônica.
Nessas doenças, a ligação entre calor e piora dos sintomas já é bem conhecida. Por exemplo, um estudo publicado na revista International Angiology (Zini et al.) mostrou que temperaturas altas podem aumentar o volume dos membros e os sintomas em pessoas com problemas de circulação nas pernas.
Sabemos que o lipedema tem componentes vasculares (dos vasos) e linfáticos. Então, faz sentido pensar que os mecanismos que pioram outras doenças desses sistemas também se aplicam aqui.
A vasodilatação e o aumento do vazamento de líquido dos capilares por causa do calor são fatos fisiológicos bem conhecidos. O lipedema piora no calor por causa desses processos. O que eu vejo no dia a dia e o relato consistente de vocês, pacientes, reforça demais essa percepção.
Tenho certeza que as pesquisas futuras vão trazer ainda mais respostas. Elas vão detalhar as vias moleculares dessa interação entre calor e tecido do lipedema. Entender isso a fundo vai permitir tratamentos ainda mais focados. Por enquanto, a gente se baseia nas evidências que temos e no que já sabemos sobre o funcionamento do corpo humano.
Aliviando os sintomas do lipedema no calor
A boa notícia é que tem muita coisa que podemos fazer para diminuir o sofrimento quando o lipedema piora no calor. O segredo é focar em diminuir o inchaço, melhorar a circulação e tentar controlar a inflamação.
- Hidrate-se como nunca: beba muita água! Estar bem hidratada ajuda o sangue e a linfa a fluírem melhor.
- Roupas? Leves e soltinhas: prefira tecidos naturais, que deixam a pele respirar. Evite peças muito justas que podem atrapalhar a circulação. A exceção são as roupas de compressão médica, quando bem indicadas!
- Compressão é aliada: meias ou roupas de compressão graduada, mesmo no calor, podem ser suas grandes amigas. Elas ajudam a segurar o inchaço e dão um empurrãozinho na circulação. Converse comigo pra gente ver qual é a ideal pra você.
- Fuja do sol forte: tente fazer suas atividades externas mais cedo ou no fim da tarde, quando está mais fresco.
- Busque o frescor: se puder, fique em lugares com ar condicionado ou bem ventilados nas horas de mais calor.
- Pernas pra cima!: elevar as pernas várias vezes ao dia é um santo remédio. Ajuda a drenar o excesso de líquido.
- Drenagem linfática manual: feita por um fisioterapeuta que entende do assunto, é maravilhosa! Estimula o sistema linfático, alivia o inchaço e aquela sensação de peso.
- Comida que desinflama: uma alimentação rica em anti-inflamatórios ajuda a acalmar a inflamação do corpo. Pense em frutas vermelhas, folhas verdes escuras, peixes como salmão e sardinha. Fuja de industrializados e açúcar.
- Exercícios na água: hidroginástica, natação… A água faz uma compressão natural que ajuda na drenagem, e a temperatura costuma ser mais agradável.
Lembre-se: o lipedema piora no calor, mas com essas dicas, a gente consegue enfrentar essa estação de um jeito melhor.
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A importância de ter um médico ao seu lado
Quero reforçar uma coisa: cada caso de lipedema é um caso. As estratégias para lidar com a doença, inclusive no calor, precisam ser pensadas para você, de forma individual. Por isso, ter um médico que realmente entenda de lipedema te acompanhando é insubstituível. Só um profissional pode avaliar seu quadro direitinho, seus sintomas, seu histórico.
O médico vai confirmar o diagnóstico, investigar se não há outras coisas acontecendo e te guiar nas melhores opções de tratamento. Isso inclui indicar a terapia de compressão correta, receitar remédios se for preciso, e te encaminhar para outros parceiros, como fisioterapeutas e nutricionistas. O fato de que o lipedema piora no calor só mostra o quanto esse acompanhamento próximo é necessário.
Por favor, não tente se diagnosticar sozinha ou seguir dicas genéricas sem falar com seu médico. Um manejo errado pode até piorar as coisas ou atrasar um cuidado que realmente faria a diferença. Então, busque sempre orientação de quem sabe.,
Recupere sua qualidade de vida
Espero que este conteúdo tenha te ajudado a entender melhor por que o lipedema e o calor não combinam muito bem. Apesar dos desafios que as altas temperaturas trazem, existem muitas formas de amenizar esses efeitos e ter uma boa qualidade de vida.
Adotar hábitos saudáveis, seguir as estratégias que comentei e, o mais importante, ter um acompanhamento médico especializado são seus grandes trunfos.
Se você se viu nessas descrições, ou se o seu lipedema realmente te castiga no calor, saiba que você não está sozinha nessa. Existem tratamentos e abordagens que podem trazer muito alívio e bem-estar. Estou aqui para te ajudar a montar o melhor plano de cuidados para o seu caso.
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