A fibrose no lipedema é um dos aspectos mais incômodos e incompreendidos desta condição. Muitas de minhas pacientes chegam ao consultório descrevendo uma sensação de que a gordura em suas pernas ou braços está ficando “dura”, nodular e ainda mais dolorosa ao toque.
Essa percepção é real e tem uma explicação fisiológica complexa, que vai muito além do simples acúmulo de gordura.
Essa sensação de endurecimento é, na verdade, um sinal de que o tecido adiposo está passando por um processo de cicatrização interna. Em outras palavras, o corpo está produzindo um excesso de tecido conjuntivo, principalmente colágeno, em resposta a uma inflamação crônica.
Felizmente, entender esse mecanismo é o primeiro passo para descobrirmos juntos as melhores estratégias para gerenciá-lo.
O que exatamente é a fibrose no lipedema?
Quando falamos de fibrose, muitas pessoas pensam em cicatrizes na pele. A lógica é a mesma, mas aqui ela acontece por baixo da pele, no tecido gorduroso. Imagine que seu tecido adiposo, por estar constantemente inflamado, está sempre “ferido”. Em resposta, seu corpo tenta reparar essa “ferida” produzindo tecido cicatricial, que é mais denso e rígido.
Esse tecido cicatricial é composto principalmente por fibras de colágeno. No lipedema, essa produção de colágeno sai do controle. As fibras se acumulam ao redor das células de gordura, criando uma espécie de rede espessa e desorganizada.
É essa rede que dá a sensação de nódulos duros e uma textura irregular à pele, que é muito diferente da gordura macia de outras partes do corpo.
Consequentemente, o que você sente não é apenas gordura. É uma mistura de células de gordura doentes, fluidos inflamatórios e um emaranhado de tecido fibrótico. Entender essa composição é fundamental para direcionar o tratamento correto e parar de culpar apenas a gordura pelo desconforto que você sente.
O ciclo de inflamação, hipóxia e colágeno
A fibrose no lipedema não surge do nada. Ela é o resultado final de um ciclo vicioso que acontece no seu tecido adiposo. Tudo começa com a inflamação crônica, que é uma característica central do lipedema. Essa inflamação constante faz com que as células de gordura cresçam de forma desordenada e fiquem “doentes”.
Com o crescimento excessivo, os pequenos vasos sanguíneos que nutrem o tecido são comprimidos. Isso leva a uma condição chamada hipóxia, ou seja, uma falta de oxigênio nas células.
A hipóxia é um forte sinal de estresse para o corpo, que responde enviando mais células do sistema imune, como os macrófagos, para a área. Isso, por sua vez, intensifica ainda mais a inflamação local.
É aqui que a fibrose realmente se instala. As células inflamatórias liberam substâncias que ativam os fibroblastos, que são as nossas “fábricas” de colágeno. Em um esforço para conter o dano, esses fibroblastos produzem colágeno de forma excessiva e descontrolada.
Um estudo detalhado sobre o tecido lipedêmico, publicado no International Journal of Molecular Sciences, confirmou exatamente essas alterações, mostrando o aumento da fibrose e de marcadores inflamatórios. Este processo contínuo de inflamação e reparo defeituoso leva à rigidez e dor que caracterizam a fibrose.
Como a fibrose afeta a vida da paciente?
A presença da fibrose agrava significativamente os sintomas do lipedema. Primeiramente, a dor se intensifica. A rede de colágeno rígida pode comprimir ou aprisionar pequenas terminações nervosas no tecido, causando dor crônica que piora com o toque ou movimento. Muitas pacientes relatam que a dor se torna mais aguda e pontual nas áreas com nódulos mais duros.
Além da dor, a mobilidade pode ficar reduzida. O tecido endurecido perde a elasticidade natural, tornando a pele e os membros mais rígidos. Isso pode dificultar atividades simples como agachar, ajoelhar ou até mesmo caminhar. A sensação é de que o corpo está “amarrado” por dentro, limitando a amplitude dos movimentos e o conforto no dia a dia.
Outro impacto importante é na drenagem linfática. A rede de fibrose pode obstruir os minúsculos vasos linfáticos, dificultando a remoção do excesso de líquido dos tecidos.
Isso pode levar ao desenvolvimento ou piora do linfedema secundário (Lipo-Linfedema), aumentando ainda mais o inchaço, o peso e o desconforto. Por isso, tratar a fibrose no lipedema é essencial.
Como gerenciar e amaciar a fibrose
Felizmente, existem estratégias eficazes para quebrar o ciclo da fibrose e aliviar os sintomas. O objetivo do tratamento é reduzir a inflamação de base, “soltar” o tecido endurecido e melhorar a circulação local.
Terapias manuais e de compressão
A terapia manual especializada é uma grande aliada. A Drenagem Linfática Manual ajuda a reduzir o inchaço, diminuindo a pressão e a inflamação no tecido. Além disso, técnicas de liberação miofascial podem ajudar a quebrar as aderências do tecido fibrótico, devolvendo um pouco de maleabilidade à pele e aliviando a dor por compressão.
É fundamental que essas terapias sejam feitas por um fisioterapeuta com experiência em lipedema. A compressão, através de meias ou bandagens, é igualmente importante para prevenir o acúmulo de líquido que alimenta a inflamação e a fibrose.
Nutrição e suplementação anti-inflamatória
A alimentação é a base para controlar a inflamação que causa a fibrose no lipedema. Uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios, como peixes ricos em ômega-3, frutas vermelhas, vegetais de folhas escuras, cúrcuma e gengibre, ajuda a modular a resposta inflamatória de dentro para fora.
Além disso, alguns suplementos, sempre com orientação profissional, podem ser muito úteis. A Vitamina C, por exemplo, é importante para a formação de um colágeno saudável, enquanto a Curcumina e o Ômega-3 são potentes anti-inflamatórios.
Procedimentos médicos avançados
Em casos onde a fibrose é extensa e muito sintomática, os tratamentos conservadores podem não ser suficientes. Nesses cenários, a lipoaspiração específica para lipedema (com técnicas que preservam os vasos linfáticos, como a WAL ou a PAL) pode ser considerada.
Este procedimento remove não apenas a gordura doente, mas também o tecido fibrótico acumulado, proporcionando um alívio significativo e duradouro da dor e da rigidez. Contudo, esta é uma decisão que deve ser tomada em conjunto com seu médico.
A fibrose no lipedema pode ser totalmente revertida?
Reverter completamente a fibrose instalada é muito difícil. No entanto, com os tratamentos adequados, é possível “amaciar” o tecido, reduzir significativamente a rigidez e a dor, e principalmente, prevenir a formação de mais fibrose ao controlar a inflamação.
Qual profissional devo procurar para tratar a fibrose?
O tratamento da fibrose no lipedema é multidisciplinar. Você precisa de um médico especialista em lipedema para coordenar o tratamento, um fisioterapeuta especializado em terapias manuais e linfáticas, e um nutricionista para orientar a dieta anti-inflamatória.
Exercícios podem piorar a fibrose?
Não, se forem feitos da maneira correta! Exercícios de alto impacto e que causam trauma podem piorar a inflamação. Contudo, exercícios de baixo impacto, como natação, hidroginástica e caminhadas, melhoram a circulação e ajudam a combater a inflamação, sendo muito benéficos.
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Melhore sua qualidade de vida
A sensação de gordura dura e os nódulos dolorosos são manifestações claras da fibrose no lipedema. Espero que, após esta leitura, você compreenda melhor que este é um processo fisiológico complexo, impulsionado pela inflamação crônica, e não um sinal de que você está fazendo algo errado. Entender a causa é o que nos permite traçar as melhores estratégias de tratamento.
Lembre-se que você não precisa conviver com a dor e a rigidez sem ajuda. Existem abordagens eficazes que podem melhorar muito sua qualidade de vida. Desde terapias manuais e uma nutrição inteligente até procedimentos mais avançados, há um arsenal terapêutico disponível para combater a fibrose e seus sintomas.
Se você se identificou com o que leu e sente que seu corpo está mais rígido e dolorido, talvez seja a hora de investigar a fundo e iniciar um tratamento direcionado. Estou aqui para ajudar.
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