O lipedema na gravidez representa um desafio único para muitas mulheres. Este é, sem dúvida, um período de imensa alegria e expectativa na vida de uma mulher.
Contudo, para quem tem lipedema, a gestação também pode trazer muitas dúvidas e preocupações. A principal delas é como a condição pode evoluir durante esses nove meses tão transformadores.
Eu entendo perfeitamente essa apreensão que você pode estar sentindo. As mudanças hormonais e físicas da gestação podem, de fato, intensificar os sintomas do lipedema. Por isso, a falta de informação e orientação adequada pode gerar muita insegurança.
No entanto, quero que saiba que é totalmente possível passar por essa fase com mais tranquilidade e bem-estar.
Por que a gravidez pode piorar o lipedema?
A gestação é um período de intensas e necessárias alterações hormonais. Entretanto, essa “tempestade hormonal” pode ser um gatilho para a piora do lipedema. O principal hormônio envolvido é o estrogênio. Seus níveis aumentam drasticamente, o que pode estimular o crescimento (hipertrofia) e a multiplicação (hiperplasia) das células de gordura doentes do lipedema.
Além do estrogênio, outros hormônios como a progesterona e a relaxina também entram em cena. Eles são fundamentais para a manutenção da gravidez e preparação para o parto. Porém, eles também aumentam a vasodilatação e a retenção de líquidos no corpo. Para quem tem lipedema, isso se traduz em mais inchaço, sensação de peso e dor nas pernas.
Adicionalmente, existe o fator mecânico. À medida que o útero cresce, ele exerce uma pressão cada vez maior sobre as veias pélvicas e os grandes vasos linfáticos. Essa compressão dificulta o retorno do sangue e da linfa das pernas para o coração. Consequentemente, o edema e o desconforto podem se intensificar, tornando o manejo do lipedema na gravidez um cuidado diário.
Manejo do ganho de peso
Durante a gestação, o ganho de peso é esperado e necessário para a saúde do bebê. Contudo, quando falamos de lipedema, precisamos gerenciar esse ganho de forma estratégica. Um aumento de peso descontrolado pode sobrecarregar ainda mais o corpo. Isso aumenta a inflamação sistêmica e o estresse sobre as articulações já doloridas.
É importante diferenciar o ganho de peso saudável da gestação daquele que exacerba o lipedema. O foco não deve ser em fazer dietas restritivas, que são perigosas para você e para o bebê. Em vez disso, a prioridade é a qualidade dos alimentos que você consome. Um plano alimentar nutritivo e equilibrado sustenta a gestação sem alimentar a inflamação.
Trabalhar junto ao seu médico e nutricionista é fundamental nesta etapa. Eles ajudarão a estabelecer metas de ganho de peso saudáveis e personalizadas. Dessa forma, você garante todos os nutrientes para o desenvolvimento do seu filho. E, simultaneamente, minimiza os fatores que poderiam agravar o seu lipedema.
Nutrição anti-inflamatória
Uma das ferramentas mais poderosas que temos é a alimentação anti-inflamatória. Ela é perfeitamente segura e benéfica durante a gestação. Concentre-se em alimentos ricos em nutrientes e compostos que combatem a inflamação. Isso inclui uma grande variedade de frutas e vegetais coloridos, que fornecem antioxidantes essenciais.
As gorduras saudáveis, especialmente o ômega-3, são muito importantes. Elas estão presentes em peixes de baixo mercúrio, como a sardinha, e em sementes de chia e linhaça.
O ômega-3 ajuda a modular a resposta inflamatória do corpo. Um estudo de revisão publicado pela Cochrane Library em 2018 analisou 70 ensaios clínicos e concluiu que a suplementação de ômega-3 na gestação pode reduzir o risco de parto prematuro, além de seus conhecidos benefícios anti-inflamatórios.
Por outro lado, é fundamental reduzir ao máximo os alimentos pró-inflamatórios. Açúcares, farinhas refinadas, ultraprocessados e gorduras trans devem sair do seu cardápio. Eles não oferecem valor nutricional para o bebê e ainda podem piorar a dor e o inchaço do seu lipedema na gravidez. Não se esqueça da hidratação, bebendo bastante água ao longo do dia.
Exercícios para gestantes com lipedema
A prática de atividade física durante a gestação é muito recomendada. Para quem tem lipedema, os benefícios são ainda maiores. O movimento ajuda a ativar a bomba muscular da panturrilha. Isso impulsiona o retorno venoso e linfático, aliviando o inchaço e a sensação de peso. Além disso, o exercício libera endorfinas, que são analgésicos naturais.
As melhores opções são os exercícios de baixo impacto, que não sobrecarregam as articulações. Natação e hidroginástica são fantásticas. A pressão da água funciona como uma suave compressão, massageando os membros e facilitando a drenagem. Caminhadas leves, bicicleta estacionária e yoga ou pilates para gestantes também são excelentes escolhas.
Antes de iniciar qualquer atividade, porém, você precisa da liberação do seu obstetra. É igualmente importante que o profissional de educação física que te acompanha entenda as particularidades do lipedema. Ele poderá adaptar os exercícios para suas necessidades. O objetivo é se manter ativa de forma segura, consistente e prazerosa.
Aliadas seguras durante a gestação
Além da dieta e do exercício, algumas terapias de suporte podem ser grandes aliadas. Elas podem trazer um alívio significativo para os sintomas. A Drenagem Linfática Manual (DLM) é uma delas. Trata-se de uma massagem suave e específica que estimula o sistema linfático, ajudando a reduzir o edema.
É absolutamente essencial que a DLM seja realizada por um fisioterapeuta qualificado. Ele precisa ter experiência no atendimento a gestantes e pacientes com lipedema. A técnica e as áreas a serem trabalhadas precisam ser adaptadas para garantir a segurança da mãe e do bebê. Essa terapia pode ser uma verdadeira bênção para aliviar a dor e o desconforto.
O uso de meias de compressão também é uma estratégia muito eficaz. Elas fornecem um suporte externo para as veias e vasos linfáticos. Isso melhora a circulação e previne o acúmulo de líquidos.
No entanto, o tipo, o tamanho e o nível de compressão devem ser indicados por um médico. O corpo muda muito na gravidez, então pode ser necessário reavaliar a meia ao longo dos trimestres.
A suplementação no lipedema na gravidez
A suplementação pode ser uma ferramenta útil, mas na gravidez exige cautela máxima. Jamais tome qualquer suplemento sem o conhecimento e a aprovação do seu médico obstetra e do médico que trata seu lipedema. Muitos suplementos que usamos no tratamento do lipedema não foram testados em gestantes e, portanto, devem ser suspensos.
Dito isso, alguns nutrientes podem ser avaliados pelo seu médico. A suplementação de ômega-3, como já vimos em estudos, costuma ser segura e benéfica. A vitamina D também é fundamental e sua deficiência deve ser corrigida. O magnésio pode ajudar com cãibras e dores musculares. A decisão de suplementar dependerá dos seus exames e da sua condição clínica.
O mais importante é a transparência com sua equipe de saúde. Converse abertamente sobre todos os medicamentos e suplementos que você pensa em usar. A segurança do seu bebê está sempre em primeiro lugar. Um bom manejo do lipedema na gravidez é feito com responsabilidade e ciência.
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Redobre os cuidados na gravidez
Passar por um lipedema na gravidez exige, sim, cuidados e atenção redobrados. No entanto, com a orientação correta e uma abordagem proativa, você pode viver essa fase de forma muito mais serena e saudável.
Cuidar da alimentação, manter-se ativa com segurança e usar as terapias de suporte corretas faz toda a diferença para o controle dos sintomas e para evitar a progressão da doença.
O mais importante é que você não se sinta sozinha. Monte uma equipe de saúde multidisciplinar de sua confiança. Seu obstetra, o médico especialista em lipedema, um nutricionista e um fisioterapeuta podem trabalhar juntos para te dar o melhor suporte possível. Lembre-se, você é a protagonista do seu cuidado.
Se você está grávida ou planejando engravidar e tem lipedema, buscar orientação personalizada é o melhor caminho. Eu estou à disposição para te ajudar a traçar um plano seguro e eficaz para esta fase tão especial. Clique no botão abaixo e agende uma consulta.